O professor universitário Anderson Deo, 36, que atua na área de Ciências Sociais, foi o vitorioso do Bolão Folha, com 940 pontos. Superando os demais 269 apostadores, ele, que não se considera viciado em futebol, o que foi confirmado pelo teste elaborado pelo 12emCampo, acompanha futebol com regularidade, independentemente da Copa do Mundo. Corintiano e natural de Santo André (SP), Deo reside atualmente em Marília e diz que não participou de nenhum outro bolão nesta Copa. Os participantes do Bolão Folha puderam apostar nos placares dos jogos a partir das oitavas de final. Confira abaixo a entrevista, concedida por e-mail ao 12emCampo:

12emCampo - Você achou justo o resultado da Copa?
Anderson Deo - Penso que o título ficou em boas mãos. Além de ser uma seleção "inédita" no seleto time dos campeões mundiais, o futebol apresentado pelos espanhóis foi de alto nível: toque de bola, habilidade e objetividade. Tudo que um bom time necessita.

Houve alguma estratégia nas decisões dos seus palpites?
Nenhuma estratégia previamente traçada! Procurei analisar o desempenho anterior das seleções. Nesse sentido, acho que deu certo, pois só errei o vencedor no jogo Argentina x Alemanha. Anotei 3 a 1 para os argentinos. Já os resultados exatos, acertei dois: Argentina 3 x 1 México, e Holanda 2 x 1 Brasil. De fato, nunca botei fé nessa seleção convocada por Dunga!

As previsões do polvo Paul tiveram alguma influência nas suas escolhas?
Minhas apostas sempre foram feitas antes de saber o "palpite" do tal polvo Paul. Só queria saber o segredo que o levou a acertar tanto!

Para qual seleção você torceu durante a Copa?
Torci pelo Brasil, mas, como tantos outros, não concordava com a arrogância de Dunga, apesar de não atribuir a responsabilidade somente a ele. Talvez o que a imprensa, de uma forma geral, não tenha demonstrado é que os responsáveis de fato são os dirigentes da CBF, que inventaram um técnico que entende muito pouco de futebol, menos ainda de marketing pessoal, e nada de relacionamento humano. Pelo futebol arte, sem burocracia, com leves sorrisos contra as caras fechadas e sisudas, torci pela Argentina, pelo Uruguai e pelo Paraguai. Na final, especialmente, pela Espanha.

O que mais marcou e o que mais surpreendeu durante a Copa?
Por mais que a mídia e o "business" internacionais tentassem camuflar, a África continua sendo um território "segregado". Além da questão étnico-racial, a desigualdade inerente ao capitalismo produz cenas bárbaras de miséria, divulgadas por alguns poucos veículos de comunicação. Em termos de futebol, surpreendeu o fato de seleções como a da França e, principalmente, a da Itália, não passarem da primeira fase.

Você tem alguma história curiosa relacionada a uma Copa?
Lembro-me da Copa de 1982. Tinha nove anos! Aquele time era mágico! Eu e meus amigos de infância nos encontrávamos após os jogos para, simplesmente, "repetirmos" as jogadas dos gols do Brasil. Em todas as peladas, tomávamos emprestados os nomes de nossos heróis. Eis que o 5 de julho de 1982 entraria para a história do futebol mundial como "o desastre do Sarriá". Após o jogo não teve futebol na rua, em frente de casa. Fomos, então, à casa de meus avós maternos. Pois, para minha surpresa, quando lá cheguei acompanhado de minha família, meu avô Amélio proferiu a seguinte frase: "Por que vocês estão tristes? Aqui na minha televisão o Brasil ganhou! Na de vocês não!?" Por um breve, brevíssimo espaço de tempo, tive a sensação de que as coisas tinham sido de outra forma. Naquele pequeno momento, o coração palpitou mais forte, na esperança de que o Brasil, de fato, tivesse vencido, e que a minha televisão tivesse transmitido o jogo errado. No entanto, uma forte gargalhada do nosso avô denunciava mais uma de suas tantas brincadeiras. Hoje me lembro desse episódio com uma certa nostalgia. Naqueles dias, o clima era de tristeza.

Na sua opinião, qual foi o balanço da Copa na África?
Eu diria que foi bom pelo fato de a Espanha ter vencido, assim como foi boa para o futebol brasileiro a nossa eliminação. Sou pelo futebol bem jogado, alegre, que faz com que o torcedor tenha os sentimentos mais confusos diante de um drible desconcertante, ou de um gol que mereça uma "placa"; bem diferente daquele proposto pela seleção brasileira na atualidade. Mas o pior aspecto desta Copa diz respeito ao nível da arbitragem. Novas tecnologias serão muito bem-vindas. Aguardemos as mudanças.

Qual a sua expectativa para a Copa no Brasil?
Com relação à Copa do Brasil, em 2014, penso que o menor problema é o futebol. Copas do Mundo são eventos que envolvem interesses econômicos e políticos dos mais diversos. Esses assuntos ocuparão as manchetes dos jornais durante todo o período pré-Copa. Ao final, infelizmente, os mesmos serão encobertos em nome do futebol. Se os recursos estivessem sob o controle e a fiscalização direta da população, talvez as coisas fossem diferentes.