Você se senta na cadeira, olha para a TV, liga o videogame e se transforma num jogador da Itália. Parece fácil com as partidas hiper-realistas do Playstation, mas já era possível antes de 1995, quando ele foi lançado.

Nos anos 80, o jogador podia escolher entre disputar partidas ou só cobrar pênaltis, no game Pelé's Soccer da marca Atari. Mas a qualidade das imagens deixava muito a desejar, e o que trazia o estádio para a sala de casa eram mesmo o clássico futebol de botão e os jogos de tabuleiro.

Um deles, o Ludopédio, foi criado por Chico Buarque e chegou às lojas em 1977. Sofisticado, o jogo exige estratégia e sorte para que os participantes montem um time, administrem recursos e ganhem campeonatos.

Saiba mais sobre as regras do Ludopédio
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Também exige tempo. O engenheiro agrônomo Airton Brisolla, 53, colecionador de jogos antigos que possui o Ludopédio, levava mais de três horas para terminar uma partida. Brisolla define o passatempo como "coisa de gênio".

Em 1982, o jogo foi relançado em versão simplificada, intitulada Escrete. Na época com oito anos, o administrador de empresas João Luiz Diegues, 36, disputava com amigos antes e depois de assistirem às partidas pela televisão.

Durante o intervalo quase não dava tempo, já que o Escrete continuava longo como o antecessor. Para o grupo, porém, a regra era inventar as próprias regras, sem respeitar fielmente o que estava no manual.

Alessandro Shinoda/30.jun.2010/Folhapress
O administrador de empresas João Luiz Diegues, 36, com o jogo Escrete, criado por Chico Buarque de Holanda
João Luiz Diegues com o jogo Escrete,
criado por Chico Buarque de Holanda

Outro antigo jogo, o Pelebol foi comercializado entre 1978 e 1981. O "jogo do rei" era semelhante ao futebol de botão. A diferença eram as miniaturas de jogadores sobre uma base redonda, movidas por "petelecos" para conduzir a bola _aliás, quase do tamanho dos jogadores.

Para o médico Rodrigo Vianna, 39, que ainda guarda o Pelebol, as peças não deslizavam com precisão no campo de flanela. Ele e seus amigos preferiam organizar campeonatos de botão, com direito até a medalhas.

Futebol de botão sobrevive, mas disputa espaço com videogame

Prática que repetiu há quatro anos, quando reuniu colegas médicos para disputar partidas. "Eram quatro médicos brincando igual crianças." Entre os 12 times que possui, Vianna cita o da Copa de 1978, com os rostos de Rivellino, Zico e outros jogadores da seleção canarinho estampados nas peças.

Figurinhas da Copa

Da infância, Vianna também guardou o álbum lançado durante a Copa de 1982 pela antiga marca de chicletes Ping Pong. "Como eu comi chiclete! Muitas das minhas cáries vieram daí."

O programador Paulo Lanzuolo, 38, ainda tem o exemplar da Ping Pong e conseguiu completá-lo em maio. Pela internet, ele encontrou outro colecionador que tinha as duas figurinhas que lhe faltavam _elas vinham envoltas nos chicletes: um jogador da Polônia e o mascote da seleção da União Soviética (bloco de repúblicas socialistas extinto em 1991).

Lanzuolo conseguiu convencê-lo a retirar as figurinhas do álbum e ainda a comprar uma cópia de seu exemplar, agora completo, por R$ 150. "O original eu não vendo por nada."

Alessandro Shinoda/11.jun.2010/Folhapress
O programador Paulo Lanzuolo e a filha Larissa, com o álbum da Ping Pong, relíquia da Copa de 1982
Paulo Lanzuolo e a filha, Larissa, com o
álbum da Ping Pong, da Copa de 1982

Colecionar álbuns também é o hobby do empresário Luiz Otávio Sorrini, 43. O interesse vem desde a infância, quando colava as figurinhas com uma mistura de farinha de trigo e água.

Ele já completou sete álbuns da Copa deste ano. A edição de 1958, que ganhou da avó, fica guardada numa caixa junto com os exemplares dos Mundiais de 1982 a 2006. "Tem que conservar, porque amanhã é história."

Conservar a história pode render lucro. Na internet, em um site de compra e venda, o álbum da Ping Pong de 1982 foi encontrado pela reportagem por R$ 300, mesmo sem três figurinhas para ficar completo. Pelebol, Ludopédio e Escrete estão fora de linha _apenas o primeiro foi encontrado no site em sua versão completa, por R$ 350.

Craques cabeçudos

Das Copas mais recentes, os minicraques da seleção brasileira, lançados pela Coca-Cola durante o Mundial da França de 1998, estão na prateleira do concierge (profissional do ramo hoteleiro) Guilherme Borges, 34.

Ele juntou tampinhas de refrigerante para conseguir os 24 jogadores cabeçudos, mais o trio formado por Dunga, Romário e Ronaldo. Com a coleção completa, passou a importar exemplares de outros países.

Borges estima que gastou R$ 4.000 com seus mais de 300 minicraques. Entre as miniaturas estão Zidane e Maradona _além de Zico, Garrincha e o raríssimo Pelé, todos eles produzidos e vendidos apenas na Europa. Nunca entraram em campo no comércio brasileiro.