MARCOS DE VASCONCELLOS
THAIS BILENKY
DE SÃO PAULO
"Gol para nós é companhia aérea", diz o primeiro-sargento Sergio Rycbczak, 44, coordenador de equipe da sala de controle do tráfego aéreo conhecida como APP (de "approach", aproximação em inglês), no Aeroporto de Congonhas (zona sul de SP).
Proibidos de assistir TV ou ouvir rádio enquanto trabalham, os controladores que trabalhavam durante o primeiro jogo do Brasil na Copa, nesta terça-feira (15), não tiravam o olho da tela --de controle das aeronaves. Só aos 25min do primeiro tempo, um funcionário se atreveu a perguntar, timidamente, se o placar seguia 0 a 0. Ninguém respondeu.
O primeiro gol da seleção brasileira passa quase despercebido. Ao ouvir fogos estourando do lado de fora, uma controladora exclama "gol!", baixinho. Os outros não se empolgam e continuam a trabalhar. Além de não assistir ao jogo, os controladores não podem passar nenhuma informação, fora as técnicas, para os pilotos.
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Menos gente viaja nos dias de jogo, mas isso não afeta em nada o trabalho do controladores, diz o comandante do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de São Paulo, o major Emerson Moraes, 40 (o destacamento é o responsável por controlar o tráfego aéreo do Estado de São Paulo, exceto o Campo de Marte). Como os voos comerciais não podem ser cortados pelas empresas, o ritmo do trabalho continua o mesmo. Até as 20h desta terça-feira, 212 voos pousaram e/ou decolaram no aeroporto. No dia 12 de junho, um sábado, foram 187 voos.
O major não pôde acompanhar a partida porque estava na cabine de uma aeronave em um voo comercial que partiu do Rio para São Paulo às 16h15. Moraes conta que o avião estava vazio, com apenas 40 passageiros. Alguns com camisa do Brasil, mas "torcedores contidos", segundo ele.
O jogo já ia pela metade do segundo tempo quando o suboficial Vidal entrou na sala de controle e uma colega, que ouvira o foguetório, quis saber quem marcou o segundo. "Foi gol?", pergunta de volta Vidal. Ele estava no banheiro e diz só ter ouvido um barulho do lado de fora. O gol fora de Elano, aos 26min do segundo tempo, mas ninguém viu.
Os únicos controladores que puderam assistir e vibrar à vontade durante o jogo inteiro foram os nove que estavam em hora de descanso, na sala de estar do APP. O máximo que faziam para levar o espírito da Copa do Mundo aos colegas que trabalhavam era servir uma bacia de pipoca e avisar, discretamente, os gols da partida.
Um deles, o suboficial Peres, ainda se divertia dizendo que a tensão diante da TV é maior do que na sala de controle.