Na Copa e no trabalho

03/07/2010-11h08

No Metrô, um vê o jogo para todos

"Atenção. Copa 2010. Holanda 2, Brasil 1. Em andamento, segundo tempo." Foi com essa frase seca e em tom mecânico que os passageiros do Metrô paulistano souberam o placar que tirou o Brasil da Copa nesta sexta-feira (2).

A informação veio do Centro de Controle Operacional, na rua Vergueiro, 1.200, via rádio. Lá, as atenções concentram-se nos painéis de tráfego dos trens. Porém, no meio da sala de controle, uma TV ligada na partida serviu de fonte de informação.

A cada gol que saía, um funcionário cantava o placar para os operadores de trem retransmitirem aos passageiros.

Os maquinistas e os supervisores da sala de controle não podem assistir à TV nem ouvir a transmissão do jogo por rádio. Apenas um grupo restrito de funcionários viu a partida.

"Em dia de jogo, fica por conta da imaginação", resumiu Maria Rosileide Gomes, 43, operadora de trem há 18 anos.

Apesar de algumas estações praticamente desertas, São Bento e Anhangabaú, no centro da cidade, chegaram a receber 50 mil usuários a cada jogo do Brasil nesta Copa, segundo Edward dos Santos, 52, coordenador do Centro de Controle Operacional do Metrô.

O número, porém, ainda é cerca de metade da circulação normal de passageiros dessas estações.

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30/06/2010-17h50

Operador da CET troca jogo por trânsito livre

Quando terminou o primeiro tempo do jogo entre Brasil e Chile, David Garcia Toledo deixou o turno no trabalho e foi para sua casa. Mas não esperava chegar antes do fim da partida, porque levaria 40 minutos para percorrer o trajeto. "Chegando em casa, já vou pegar comemoração", disse ele, prevendo a vitória brasileira.

Toledo é um dos funcionários da central de operações da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), localizada nos Jardins, em São Paulo, que não se importam em perder parte da transmissão do jogo, já que ganham tempo com o trânsito livre no horário das partidas da seleção. Quinze minutos antes de os jogadores entrarem em campo, às 15h15, havia 160 km de congestionamento na capital paulista. Ainda no primeiro tempo, esse índice chegou a zero.

Essa situação, típica durante os jogos, também ajudou a operadora de monitoramento Camila Marques, que iniciou seu turno pouco antes do intervalo. "Foi um dos dias em que vim mais rápido trabalhar", afirmou.

Enquanto trabalhava, Camila pôde acompanhar o segundo tempo por uma das TVs colocadas na principal sala de operações, que se somavam aos 24 televisores com imagens de ruas, túneis e avenidas de São Paulo.

Por essas imagens, somadas a um telão que mostrava o mapa da capital e o número de quilômetros congestionados, os operadores monitoravam o tráfego na cidade. Outros atendiam a ligações de pessoas que desejavam comunicar ocorrências ou solucionar dúvidas. A sala é dividida em seções, cada uma correspondente a uma região da cidade. Com o baixo índice de ocorrências, funcionários puderam dividir a atenção entre suas tarefas e os lances da partida.

Segundo o coordenador da central, Olímpio Mendes de Barros, os agentes de trânsito --conhecidos como "marronzinhos"-- até tinham permissão para assistir à TV em algum local público na sua região de trabalho. Mas a regra era clara: somente na ausência de movimento nas ruas, e sempre com o rádio ligado.

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26/06/2010-11h48

Pedro Álvares atende brasileiros, mas torce para Portugal

Vinte e sete anos depois de descobrir o Brasil, o português Pedro Álvares Cardoso estava em dúvida sobre qual seleção levaria a sua torcida no jogo desta sexta (25) --a do país de origem ou a do país adotado. Logo antes do início da partida, decidiu: "O hino bateu mais forte e dei um pouco do coração para Portugal".

Vestido com a camisa da seleção europeia, o chefe de bar acompanhou o jogo contra o Brasil trabalhando atrás do balcão do Wall Street Bar, em São Paulo. No fim da partida ficou satisfeito com o 0 a 0.

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O português Pedro Álvares torce solitário em meio a brasileiros
O português Pedro Álvares torce solitário em meio a brasileiros

Chamando mais a atenção do que o colega lusitano estava Ademir Avelino da Silva, gerente do local. Vestido com a bandeira brasileira da cabeça aos pés, a primeira coisa que disse à reportagem foi: "Hoje eu não sou só gerente, sou torcedor". Entre um prato e outro de bacalhau que oferecia aos clientes, tocava corneta e vibrava com os lances do jogo.

Na cozinha, por conta do movimento intenso, os funcionários abandonaram os celulares e o rádio e tiveram que se contentar com os gritos que vinham do salão. "Geralmente, quando o grito é mais forte a gente já vê que tá acontencendo alguma coisa boa para o Brasil", diz Erineu Duarte, encarregado de cozinha.

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Gerente de bar assume lado torcedor durante jogo do Brasil
Gerente de bar assume lado torcedor durante jogo do Brasil

Para quem estava do lado de fora, cuidando da segurança e do estacionamento, o jeito foi ver o jogo em uma TV 20 polegadas. A única vantagem em relação ao telão retrátil instalado para os clientes era a narração, que chegava antes. Só dez segundos após cada "uuuuuhhh" lá fora, ouvia-se um "uuuuuhhh" lá dentro.

Segundo Fábio Alguin, um dos sócios do bar, o primeiro jogo do Brasil, contra a Coreia do Norte, reuniu mais de 200 pessoas. Nesta sexta, o movimento foi de 130 a 150 pessoas. Mesmo assim, todos os 25 funcionários trabalharam.

Com um jogo truncado e sem grandes emoções, a surpresa ficou por conta dos clientes. "A gente não esperava que o pessoal fosse beber muito, mas quando abrimos já começaram a pedir caipirinha, logo de manhã, às 9h", conta o português Cardoso.

21/06/2010-17h41

Em meio ao jogo do Brasil, controladores de voo só veem a tela dos aviões

"Gol para nós é companhia aérea", diz o primeiro-sargento Sergio Rycbczak, 44, coordenador de equipe da sala de controle do tráfego aéreo conhecida como APP (de "approach", aproximação em inglês), no Aeroporto de Congonhas (zona sul de SP).

Proibidos de assistir TV ou ouvir rádio enquanto trabalham, os controladores que trabalhavam durante o primeiro jogo do Brasil na Copa, nesta terça-feira (15), não tiravam o olho da tela --de controle das aeronaves. Só aos 25min do primeiro tempo, um funcionário se atreveu a perguntar, timidamente, se o placar seguia 0 a 0. Ninguém respondeu.

O primeiro gol da seleção brasileira passa quase despercebido. Ao ouvir fogos estourando do lado de fora, uma controladora exclama "gol!", baixinho. Os outros não se empolgam e continuam a trabalhar. Além de não assistir ao jogo, os controladores não podem passar nenhuma informação, fora as técnicas, para os pilotos.

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Menos gente viaja nos dias de jogo, mas isso não afeta em nada o trabalho do controladores, diz o comandante do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de São Paulo, o major Emerson Moraes, 40 (o destacamento é o responsável por controlar o tráfego aéreo do Estado de São Paulo, exceto o Campo de Marte). Como os voos comerciais não podem ser cortados pelas empresas, o ritmo do trabalho continua o mesmo. Até as 20h desta terça-feira, 212 voos pousaram e/ou decolaram no aeroporto. No dia 12 de junho, um sábado, foram 187 voos.

O major não pôde acompanhar a partida porque estava na cabine de uma aeronave em um voo comercial que partiu do Rio para São Paulo às 16h15. Moraes conta que o avião estava vazio, com apenas 40 passageiros. Alguns com camisa do Brasil, mas "torcedores contidos", segundo ele.

O jogo já ia pela metade do segundo tempo quando o suboficial Vidal entrou na sala de controle e uma colega, que ouvira o foguetório, quis saber quem marcou o segundo. "Foi gol?", pergunta de volta Vidal. Ele estava no banheiro e diz só ter ouvido um barulho do lado de fora. O gol fora de Elano, aos 26min do segundo tempo, mas ninguém viu.

Os únicos controladores que puderam assistir e vibrar à vontade durante o jogo inteiro foram os nove que estavam em hora de descanso, na sala de estar do APP. O máximo que faziam para levar o espírito da Copa do Mundo aos colegas que trabalhavam era servir uma bacia de pipoca e avisar, discretamente, os gols da partida.

Um deles, o suboficial Peres, ainda se divertia dizendo que a tensão diante da TV é maior do que na sala de controle.

21/06/2010-17h27

Neymar, PM, atua em jogo contra a Costa do Marfim

Dunga não convocou o atacante do Santos para sua seleção, mas outro Neymar acabou se destacando durante o jogo entre Brasil e Costa do Marfim.

No vale do Anhangabaú, onde aproximadamente 38 mil torcedores se espremiam para acompanhar a disputa num telão, o homônimo do jogador santista era um entre os cerca de 300 policiais militares encarregados de controlar a multidão. Neymar deteve suspeito de furtar um celular. O soldado e seus colegas dividiam-se em tarefas como revistar os torcedores na entrada e fazer rondas a pé, de bicicleta, na viatura ou em motos.

Um ou outro PM até dava uma espiada no telão. Mas, em sua maioria, mantinham semblante mais sério do que o do técnico Dunga. Saiu gol? "A gente ouve e comemora por dentro", diz o primeiro-tenente Paulo Bisterso, 27, um dos 30 homens da Força Tática da PM no local. Em seguida, ele mostra à Folha a pistola Taurus, calibre 40, que usa para a ronda. Também tinha um revólver calibre 38 e cassetete.

Sacar as armas, só em casos extremos. Até o fim da partida, a base havia recebido apenas notícias de furtos e pessoas passando mal. Seguranças e PMs vigiavam os três acessos ao cercado no Anhangabaú para vetar a entrada de objetos considerados perigosos -- até os cabos de plástico das bandeirinhas foram banidos.

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Coronel Accarini faz ronda no Viaduto do Chá durante jogo
Coronel Accarini faz ronda no Viaduto do Chá durante jogo

Contudo, no segundo tempo, as pessoas passaram a entrar sem qualquer tipo de revista por um desses acessos. Após serem questionados pela reportagem, os PMs retomaram o cuidado. No meio da multidão, um cigarro de maconha circulava numa roda de garotas. Uma delas disse que não teve problemas para passar pela revista.

No rádio de um PM, alguém avisa de "um homem que se jogou da ponte". No Viaduto do Chá, um agente da Guarda Civil explica: "Ele veio caminhando pela calçada e simplesmente pulou".
O homem, não identificado, foi levado a um hospital próximo. Faltavam 10 minutos para o jogo acabar.

Hora do lanche

A rotina começou às 13h, com uma reunião na qual foram passadas as instruções e divididas as equipes. Os três policiais que permaneceram na base não tinham qualquer informação sobre o jogo, salvo os gritos dos torcedores ou, na hora dos gols, uma olhada no smartphone.

Os 300 PMs se revezam para pegar o lanche na base: dois sanduíches (queijo e peito de peru ou queijo e salame), refrigerante, água e um bombom. O coronel Edemilson Accarini, 42, conforma-se: "Quem é da área central está acostumado a trabalhar em eventos como Réveillon, Virada Cultural, Virada Esportiva. Enquanto a população se diverte, o policial trabalha".